terça-feira, 18 de novembro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sóis de Inverno


Dia de Sol seco, ao qual não me dou sob pena de agravamento da gripe. Há que conter o calor, ditoso o remédio pela transpiração. Nisto já vão dias, todos terminados, mas todos de larga e infindável caminhada, de prostrar na cama, quando tudo em volta e lá fora se agita, em nova criação ou urdida repetição quotidiana. E eu pergunto: “Que tal a vacina da gripe matar o vírus ou sua estirpe deste ano e não do transacto?” Em sábio, baixo e fácil exclamar termino: “Ele há porras!”



O Sol sobre as costas, enquanto eu, na esplanada envolta em vidro de bar de praia, percorria actos da vida, como a ultrapassagem de ontem, que me fez, quilómetros à frente, terminar no meu destino, pelo menos naquele dia. Eu relato esses segundos: primeiro, o tédio da condução certa e não errática, atrás do paulatino carro. Minutos e metros depois, o definitivo aborrecimento, inferindo pela ultrapassagem; porém, quase escassos os momentos de estrada propícia, senão a recta de quase oitocentos metros, na estrada de uma faixa para cada sentido. Nisto se pensa, nisto surge o momento de ultrapassagem e nisto se parte para ela. Contudo, já o nariz do meu carro calcorreia o sentido oposto e se avista um carro, em sentido contrário. Agora? Agora vive-se ou não, aceleramos ou aquietamo-nos. Naquele tempo, foi momento de ir, de não retroceder e de ser parvamente nada mais que irresponsável. Em sorte de risco não controlado, completou-se a manobra sem incidente maior, que não duas buzinadelas e com um imenso pulsar no meu peito. Estúpido, fui-o flagrantemente. Tremente, abro o peito à respiração, como se suspenso estivesse. Porquê gostar disto?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

TEMPO DE PROCESSAMENTO

Uns olham e apaixonam-se.
Outros sentem-se vistos e dão por si acercados do amor que aceitam receber.
Uns correm, ofegantes e outros recriam-se por tal espectáculo.
Uns pensam e outros executam.

Na variedade do tudo, muitos desaguámos no nada.
Tão comum a bons e maus seres chegar ao zero, à tristeza do fim da escalada, sem mais por onde subir ou ao arrepio constante da estadia ao nível do mar.
Bipolaridade, pois.

Evito correr no carro e acumular excessivos consumos de combustível, lento ando, lento chego e mais demoro.
Não vou e fico, fico e perco a ida.

Ser sozinho.
Ser sozinho.
Ser soziho e satisfazer-nos em consciência nisso.
É aí que moro.
Ao ser.

Ainda assim, em diferentes tempos de processamento, no fim todos chegamos ao mesmo, a hoje e à morte.

domingo, 24 de agosto de 2008

Evorada




Entristeço-me, porventura, vezes demais com o quotidiano ameno do nosso país;
Todos começámos pequenos e terminámos mortos, tão prosaica, velha e rota verdade;
O destaque surge no entrementes, em boa concretização do adágio popular: “No meio está a virtude.”;

Nesse imenso espaço, maior ou menor, histórias de vidas:

– Hoje, Évora, Nélson Évora. Começou pelo salto em altura, magoou-se no joelho, ainda júnior, e contornou mascaradas impossibilidades, praticando o salto em comprimento e o triplo salto. Aportou agora neste último e aportou logo no mais magnânimo barco de todos, o Olímpico.

Assim se conquista, meritoriamente, a imortalidade da lembrança colectiva de Portugal e do Mundo; são já muitas as suas conquistas e largo o planetário reconhecimento. Com a marca olímpica de 17,67 metros, Jonathan Edwards e os seus 18,43 m estão ainda algo distantes, mas nem por isso intangíveis, fosse lá, por ridículo raciocínio, parar quem nunca o fez, quem Évora é.

Em português nu: “Venha quem vier, só Lopes, Mota, Ribeiro e Évora fizeram entoar e entrar nos ouvidos de todo o Mundo a “Portuguesa” e, FODA-SE, não há nada maior, no que tange ao impacto mundial global (as audiências televisivas comprovam-no), que os Jogos Olímpicos.

Acrescento, em nota final, o carácter do atleta e do meio que o envolveu: simples, muito humano, perseverante, sofredor, quente, divertido e certo na hora do rigor. Não abdicam, quer o atleta, quer o seu treinador da descontracção, do gozo, do divertimento no trabalho, afinal, tão secular segredo do êxito, quando acompanhado do labor diário intenso, ainda que, certos dias, aparente ser improdutivo.

Vénia para eles, atleta e seu treinador Ganço.

Sobre esta onda de insatisfação colectiva quanto aos demais atletas, censuro somente a Telma Monteiro por ter culpabilizado a arbitragem pelo seu insucesso, tão fácil a um desportista vencido e nada credibilizador da ideia que tenha dado todo o seu máximo… Falhar, falhamos todos: ninguém, certamente, mais triste do que ela.
Ademais, é generalizado este jeito português de espelhar em si o êxito dos outros, esperando que esses o conquistem e, misteriosamente, o repartam para alegrar a mediania colectiva… Há dias, com particular atenção, dado que era dito em Espanhol, ouvia um anúncio promotor do que é ser Espanhol, protagonizado por Pau Gasol (basquetebolista Espanhol, com imenso êxito na NBA) que falava do bom que era ser reconhecido pelo seu trabalho, mas melhor destacava o bom que é catapultar o seu país no Estrangeiro, transmitindo uma mensagem de responsabilidade activa, na imagem e projecção da Espanha no estrangeiro, mas outrossim dentro de portas, terminando com a frase dirigida aos seus compatriotas: “Temos essa responsabilidade”. Nacionalismos à parte, melhor veríamos e melhor desfrutaríamos dos Jogos Olímpicos se simplesmente os acompanhássemos, sem querer que o Évora, a Naide, a Vanessa ou o Gustavo nos trouxessem uma medalha… Simplesmente apreciar como quem rejubila com o Phelps e outros heróicos actos ali praticados.

Faça-se Portugal feliz por cada Português, interiormente firmado e não à bolina de um qualquer vento externo do vizinho do lado.

P.S.: Por mais que odeie e verbere as histórias que nos chegam da comunista China, foram mesmo os melhores Jogos Olímpicos de Sempre, ao nível da organização e da espectacularidade que esta lhe pretendeu incutir, por mais que eles não merecem sabê-lo.

sábado, 16 de agosto de 2008

Zénite Desportivo

Tenra idade exibia eu quando li um imenso livro juvenil sobre os jogos olímpicos, na antecâmara de “Barcelona 92”, com o celebradíssimo hino do Freddie Mercury (“TUDO SOBRE OS JOGOS OLÍMPICOS”, Walt Disney, Edição Abril Jovem, 1992). Nele uma imensa figura se destacava como impulsionador máximo dos Jogos Olímpicos da Modernidade – o Barão Pierre de Cobertin.
Que ideário na base de tal louca ideia de relançar “Jogos Universais e Totais” do Desporto no ano de 1896? Em resumida e aglutinadora máxima: “O importante é participar” e era. Realizam-se de quatro em quatro anos e logo aí nasce todo o seu magnetismo, singular em cada uma das suas vezes, imprevisível ao mais forte dos atletas.
Que histórias encerra? Sonhos de pequenas pessoas transformados em ícones de heroísmo, não pela arrogância magnânime dos seus actos, mas pelo prazer de serem vistos em tão loucos actos bem para lá do limite do vulgar Homem. É isso que aplaudimos.
Ergo aqui Jesse Owens que ordenou a retirada de Hitler (ao menos assim reza a história nas Olimpíadas de Berlim de 1936) da Tribuna, onde assistia à prova de salto em comprimento e, aí matou-se, o mito da raça ariana, já que o Jesse era negro, lá do Alabama. Lembro que o indesmentível objectivo da Alemanha em organizar esses jogas era demonstrar o tal poderio de tal raça…
Há muitos outros, como Mark Spitz, Cassius Clay, Bikila, Nádia Comaneci e muitos outros que a memória não elege ou desconhece… Vou apenas falar de mais um: Michael Johnson… Di-lo-ia Chita, mas com forma de Gazela, tamanha a velocidade mas o estilo imponente com que se projectava na pista, nos 200 e 400m; e que avanço dado (http://www.youtube.com/watch?v=NTjk770KoR0 – espreitem também). Este é do meu tempo e sem igual. Um hino.
E estes “Pequim 2008”? Sem maledicências propositadas, sinto-o um fracasso anunciado. A ver.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Espera

Detesta horas incumpridas. É, em si mesmo, um porto de relógio, com o nariz largo e autuante, ainda que recolhido no morno habitáculo do carro. Aguarda-a, entre fitares em objectos em movimento; nos intervalos, fixa o olhar em objectos imóveis, um deles, um prédio. Aí, enquanto não corre gesto algum na rua, brinca ao passado e imagina a sua história.

Hoje, perco-me num imenso prédio altivo de oito andares. Altivo, pois outrora nascido entre duas apertadas ruelas, onde o escape atmosférico sempre se mostrou nulo ou ínfimo (foram já três, nos últimos nove meses, os casos de internamento hospitalar motivados pela deslocação do pescoço, dito doutra forma, em inexistente rigor médico, torcicólogos, todos eles motivados pela louca tentativa de defrontar em olhar directo o céu que cobre ambas as ruelas). Fechem o espanto por tão arrojada e alegada revolucionária forma de ordenamento imobiliário, afinal eu escrevo sobre um espaço do Portugal urbano, nascido no final da década de oitenta, início de noventa, tempos de triste espaçamento urbano-aéreo.

Ainda assim, pese já a quase vintena de anos, este prédio exibie menos vulgares traços estruturais, como um túnel de acesso, no rés-do-chão, às traseiras, mesmo no centro da sua estrutura e, talvez por isso, suplementar apoio em vários pilares. Assim, em fronte a ele, cabe registar a existência de dezasseis daqueles, em azulejo castanho liso forrados. Gosto ainda das encobertas áreas criadas nas margens do prédio, fruto do espaço entre tais pilares e a entrada efectiva no seu interior.

Nas costas dele, uma imensa barriga saída do centro da estrutura. Contarei cerca de dez metros por dez metros de espaço, multiplicados por oito andares, erguidos no ar, sem qualquer apoio no chão, apenas engavetados no tronco principal do prédio. A um leigo em engenharia (e bem sei que esta estará longe de ser uma irreverência arquitectónica ou das maravilhas do cálculo rigoroso), não deixa de causar um certo arrepiar e fomentar de histórias trágicas de derrocada, relativas àqueles dez por dez.

Não se estranhe por isso que, algures entre o meu pensamento, me ocorresse um combalido trabalhador, em virtude de queda do, hoje, terceiro andar, à altura, futuro terceiro andar. Naquele tempo, lembro os mais incautos, no que à memória tange, em matéria de segurança na construção civil, nem uma fina barra de madeira ou metal ladeava os andaimes, sendo inúmeras as estúpidas quedas, consequenciadas com a morte ou graves incapacidades físicas. Valha hoje, ao menos, o algum Estado Social em matéria de Segurança no Trabalho.

Em som de despertador matinal, irrompe defronte ao meu carro um imenso rugido motorizado, anunciando um potente motor de quatro mil de cilindrada ou, porventura, algo mais… Erro, erro crasso de amador ouvido: era uma pequena motorizada, mundanamente denominada como um secador, ali, naquela duas rodas, cujo som seria potenciado por uma qualquer alteração, introduzida por um qualquer alguém… Do gozo perdido, o som calmo e urbano recuperado, ouvindo-se o normal correr de rodas e respectivos chassis de carro sobre o asfalto, do outro lado do prédio, na rua principal.

Voltei ao imaginário do prédio, ou melhor, deixei-o de vez e pensei mais vasto, arrogando-me dum qualquer dom de reflexão. Sendo a vida em si mesmo um momento inacabado e aguardando o decurso do futuro, assunto bem mais relevado em matéria de dirigismo estadual, cumpre sempre evoluir, as mais das vezes, com os mesmos recursos humanos e materiais: é a saturação da eficiência. Isto porque Portugal é hoje um país bem mais prudente em Segurança no Trabalho, com as estatísticas a confirmarem-no, retirando Portugal do fim da lista e aproximando-o dos melhores paradigmas nesta matéria.

A querer, pois, a manutenção desta escalada.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

(CA)VACADA

Ontem, o ofuscado Presidente da República (PR) tentou, por escassímos segundos, concentrar a atenção do país... Que triste manobra a do seu gabinete, em não revelar o tema da sua intervenção!? Tiques de outros tempos, da mentalidade do “porque sou PR tens de ouvir”, "porta-te bem e tens uma surpresa" (e veio, vem e virá, noutro qualquer momento, questionar o défice de participação de jovens na política e no debate ideológico). Tudo porquanto, com o novo estatuto regional dos Açores, o PR vê reduzidos alguns dos seus poderes simbólicos; tudo porque o jogo de poder entre o PR e a Região Autónoma dos Açores (já que a Madeira parece ser território imune à azia presidencial) se prevê menos favorável ao primeiro... Tiques, repito, dalguém que outrora se escudou em duas maiorias absolutas e governou equidistantemente de tudo mais que não ele (excepto, como é óbvio, dos fundos comunitários).

O PR é o primeiro representante de Portugal, mas nenhum dos poderes essenciais à soberania de um povo lhe está entregue, seja o poder executivo, legislativo ou judicial. Defendem alguns a existência de um sistema político constitucional de semi-presidencialismo, dada a possibilidade do PR dissolver o Parlamento (porém, é muito restrito o uso de tal poder e contam-se pelos dedos duma mão as vezes que foi usado, em mais de 30 anos); parece-me bem mais razoável e actual, considerar o sistema português, como o de um Parlamentarismo mitigado...

Destarte, deveria o PR entregar a condução do país a quem de direito, assim como a formulação das leis, apenas usando da faculdade de solicitar ao Tribunal Constitucional o controle da legalidade constitucional, como o fez; errou, todavia, ao no discurso de ontem ter alargado o teor das suas dúvidas a matérias que não cuidou de suscitar junto do Tribunal Constitucional.
A mim, na imensa pequenez do meu ser de analista político, Cavaco não caminha para a reeleição, se mantiver esta postura de afronta a outras instituições (Assembleia, Governo, etc.; não que não deva "chamar a atenção do Governo, mas como poderá um social-democrata criticar, de fundo, este Governo?)...

Passo, pois, para um balanço final negativo na Presidência da R.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

HUMOR

Nunca deixei ninguém chorar perto de mim; sempre assassinei silêncios mortos, quebrando hiatos de conversa e vazios de interacção. Não gosto da quietude, senão no consultório médico, dada a minha ignorância em rebater doutos argumentos medicinais. No mais, o silêncio é sempre perturbável, como numa podre Igreja Católica, num espectáculo de teatro, num momento de suspense de travagem de carro ou num velório de idolatração post-mortem.

Hoje excepciono e revelo uma pessoal história. Corporizava, nessa data, singelos catorze ou quatorze anos. No momento, leccionava-se Francês, salvo erro de memória remota, entre os “tempos” das 10h35 e 11h25. A professora cumulava tal disciplina com a de Português. Meia aula de francês decorrida e a dúvida instala-se sobre a forma verbal de um verbo irregular, sobre a sua conjugação num determinado tempo e espaço, se bem que este segundo fosse bem concretizado – a sala de aula. O mediano aluno, primeiramente perguntado, desconhecia a resposta. O terceiro melhor aluno corroborou a ignorância e, em urgência de salvação, indo logo ao melhor, nada melhor foi alcançado.

Morreu, perdeu, desencontrou-se e desesperou… Afinal a brilhante leccionista falhara a sua missão. Gritou moderadamente a angústia de frustração profissional: naqueles pouco mais de vinte e cinco alunos nem um sabia a resposta – eu incluído (para a estatística, o segundo melhor). Em longo monólogo de rigorosos dez minutos, exteriorizou a sua mágoa de falha laboral e concluiu, em palavras que recordo, mas sem literal textualidade:

VOU DESISTIR DE ENSINAR; VOCÊS NÃO APRENDEM.

Irrompia-a. Quebrei-lhe a fala, aproveitando-me do seu espaço de respiração, quando já se preparava para, em renovado fôlego, novamente fazer eclodir o defraudar verbal em que aquela aula se tinha transformado (afinal, logo a seguir, com a mesma professora teríamos a disciplina de Português). Em tom seco, corajoso e de elegante revolta (sempre odiei velhos chorões e resmungões), inquiri:

– “S’tora, a seguir teremos Português? Como pretende abandonar o ensino…

Doeu-lhe. Doeu-lhe muito, pois logo ali senti. Um dos seus mais queridos alunos disparara forte e certeiro, precisamente aquele que ela nunca soubera domar. Atirou o olhar para o chão e, em som verbal emanado em direcção ao solo, encerrou ali a aula, até porque faltavam poucos minutos para a campainha soar.

Fui profundamente mau, mas todos nós incluímos um lado castigador. Não corrigiria, se pudesse, tal gesto. Senti-o e sinto justo.

Isto tudo porquê? No momento disse-o por revolta, mas outrossim por humor. Foi indubitavelmente um enorme momento de humor, apenas minorado, pela relativa supremacia da coragem tida em afrontar um professor.

O humor resume-se à ilógica ou anverso e, por isso, muitas vezes ao perverso. Outras é meramente brilhante ginástica mental, como um simples trocadilho ou uma flagrante literalidade.

Permitam-me, mais um caso de escola: aula de Latim, profundamente monótona na constante tradução de textos de Cícero e seus comparsas de época e língua; daí que, não raras as vezes, meia turma fosse à casa de banho… O Egrégio homem que foi esse professor, todavia menos brilhante pedagogo, contrapunha muitas vezes:

MAS VOCÊS TÊM ALGUM CONTRATO COM A SANITA? É ALGUMA OBRIGAÇÃO LÁ IREM?

Como calculam, ninguém retorquia; ninguém, excepto um grande senhor do humor espontâneo, cujo nome aqui não importa, mas que replicou:

– CONTRATO COM A SANITA? EU TOU-ME A CAGAR PARA A SANITA!

Humor do puro e do mais forte; em bruto e sem preconceito; para mim, uma das mais belas formas de intelectualidade. Em brinde final: ao riso!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Chove e não se molha o chão. Cai e não encontra o solo.

Durmo e continuo com sono. Tardo em adormecer e bocejo.

Expurgo o escarro da boca; regressa, no dia seguinte.

Extermino o tesão; ressurge em revigorada força.

Mato o dia pelas 23h59 e logo surge outro.

Prendem-nos, condenam-nos, enquanto na rua já outro rouba.

Polui-se o mundo e Kyoto ainda não vincula todos os países.

Chora-se o microscópico crescimento económico, sem suficientemente promover a classe média.

Escandalizados dizem-se face ao preço do ouro negro os mesmos que, tempos antes, alertavam outros para a não renovabilidade de tal energia.

Humanas divindades há que, sentados há anos atrás, projectaram, previram e melhor concretizaram a sequência global económica, com o surgimento de grandes potências mundiais como a China e Índia, fora outros que já espreitam a tona há alguns anos, como o Brasil. Como suportar a fome insaciável de petróleo de tais economias? Nem tampouco, alguém se atemorizou e não investiu em tais locais/mercados. Agora, continuando tais gigantes sentados, olham já 2018. Até lá.

No mais e em cada um de nós, Ser não é hoje, nem foi ontem, muito menos será amanhã. Ser é tempo largo de vida, conjunto de actos variadamente praticados, sem mais. Isso? É Ser.

Vou lá.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Conto (forma verbal)

0h26 quando a palma de sua mão correu todo o rosto e terminou entrelaçada em cabelos leves e finos, quentes e ternos, frágeis e duma sensualidade inquestionável, resumo-os como raios que circulam o centro da estrela Sol.

Ao seu lado, a sua razão de viver acabara de fenecer. Longas e saborosas as semanas, três, naquele certo caminhar para a morte, diagnosticado que fora, em estado avançado de golo, a maleita cancerígena. Incurável. Irreversível. Certa e mortal, ainda que não previamente concretizada.

Sem pressa de mais nada, procurou aspirar tudo o que sensoriava. Riam-se, mas ele cerrou os olhos, fechou-os e com tal força que todos os outros sentidos se intensificaram na procura de captação duma qualquer impressão… Em ironia, nada surpreendente do ser humano, ao horizonte do cérebro avivaram-se-lhe momentos com décadas, instantes de riso, de orgasmo, de partilha, de conquista e de tristeza a dois… Lembrou o dia do desmaio dela e como, em estúpido e inútil reflexo, a esbofeteou, ela acordou e, no seu tom resmungosamente sensual, replicou qualquer coisa como: “Queres levar?”… Não coube em si, compreendamos, como abranger tamanhas coisas, tamanha amplitude de tudo, bom e mau, mas sempre partilhado. Matou-se com um tiro.

Esta a história que ora ficcionei, mas deveras verosímil. Leiam:

http://dn.sapo.pt/2008/06/12/cidades/idoso_suicidase_depois_matar_a_mulhe.html

Ao fim, como no início, aproximando-os, o Amor a Dois. Vida.

sábado, 3 de maio de 2008

MFL ou PSL?

Falo do PSD, mergulhado numa crise de liderança desde a saída de Durão Barroso, que escolhe agora um líder (ainda que se possa aventar a saída de Cavaco Silva do partido como o início da mesma, sempre acho que, num critério de razoabilidade existencial, os laranjas, com o Cherne à frente, estavam bem à tona, se bem que Cavaco fosse mais consensual no partido…ou será que, à data, os agora chamados “barões” estavam ainda no berço?).

Uma mulher, quase septuagenária, com uma imagem visual asquerosa e de um carácter que o melhor dos “marketings” não transformará jamais no oposto… Uma mulher empurrada por quase todos… Está bom de ver: será a virgem suicida, certo o substantivo, certo o adjectivo.

Do outro lado, o “zombie” político, cujo melhor cognome será “Fénix”. Irónico é saber que este último é o melhor colocado para se digladiar com Sócrates, já que MFL é muito igual ao nosso grisalho Primeiro-Ministro, rigor, determinação, suposta frontalidade, afinal nada de novo.

Sobra, lembro Pedro Passos Coelho: ainda não é o seu momento, mas enalteça-se o seu aparecimento formal. Talvez em 2009, depois duma copiosa derrota nas legislativas de MFL (sim, ela vencerá a presidência do PSD), mas, nessa data, surgirá Rui Rio, provavelmente a mais bela réplica do cavaquismo. Enfim, que em 2013, quando Sócrates terminar o segundo mandato no Governo, apareça António Costa e, de fôlego renovado, se supere a eterne dança dicotómica PS-PSD e se mantenha, por mais divagações de rumo, um aroma de matriz socialista.

Siga com esta sensual celeuma – eu agradeço. À volta.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

MERCADO DA AXIOLOGIA DA VIDA

Há preços. Há bens de troca. Sempre foi assim, mesmo antes de haver moeda. Rejeite-se, em consequência, abominar o vil metálico ou o papel-moeda, em ambos os casos, a mesma coisa.

Sem culpa de nada, a economia e o dito dinheiro apenas objectivam simplificar a vida e a ideia de propriedade. Daí que uns quantos iluminados aplaudam o Comunismo, na sua democratiquíssima ditadura do proletariado e o fim da propriedade privada.

Não nos iludamos. Intrínseco à vida social na Terra está o sentimento de merecimento. De conquista para crescimento, para evolução – inumana tese em contrário.

De cabisbaixa expressão, sombreado pela altivez dos não errantes, resta abdicar e ser feliz. Em nós e nos outros. Em longa e lata guerra, por vezes perdida, morrerei de pé. Há preços.

domingo, 13 de abril de 2008

A ALMA

Inexiste no social. Há muito que pereceu, coabitando sem corpo o vasto mundo dos terráqueos. Se o soubessem, rotulariam-no de extraterrestre, aberração ou louco anómalo. É uma brisa, em forma de serpente, voluptuoso no seu movimento, sem com isso inspirar qualquer desejo, porquanto desconhecido (Gianna Nannini talvez o nomenclaturasse de “Meravigliosa Criatura”, forma bem elegante de o imaginar).
Pergunta-se se há-de desfazer a barba? E domar o cabelo? Adiantará? Vestir a camisola preta acima dos jeans justos, em vida femininamente elogiados? Ao som de um escape de carro potente, em aceleração na rua, investe no casual arranjo do seu corpo, contrabalançado com a roupa cuidada que exibe.

Sai. Em instante de tempo e aparte de assunto, plana por entre uma multidão de revoltados. Cumulam todos eles a qualidade de professores do ensino público, excepção se faça ao superior, e clamam, desajustados, medidas parcelares, deslocalizadas e, em muito nada, melhorativas da política da Ministra.

Foi a maior manifestação do todo sempre destes pedagogos (segundo um inquérito recente, são a classe profissional na qual os portugueses mais confiam), cujo desfecho foi um brilhante acordo na madrugada de sexta para sábado passado. Ademais e sobre isto, zero na evolução da educação em Portugal ou, em bondoso ajuizar, meio porcento de evolução: precisam-se de novos métodos.

Nestas alegadas meias vitórias, de horizontal permanência, nada se atinge que não a mera ocupação do tempo. Em verdade, em rigor de mente despida, ninguém se diz, sente ou mostra. Na perversidade da mente, o mais cru dos pensamentos é rejeitado, como se o absoluto, o ser, em só forma, fosse censurável… Olvidam a censura como significado que exige relação e olvidam, em consentâneo, aceitá-lo. Ele que só plana, não perturba e até alguém ama.
Suspiro!

terça-feira, 8 de abril de 2008

A BASE DE SER

Chegar e arrebatar; no instante de entrada, o reunir, aparentemente não cúmplice, de diversos olhares laterais. Na sua humana e vulgar mediocridade, duvida-se da bondade de tão fortes setas visuais, porventura assentes no colectivo momento e, por isso mesmo, nada fragilizadas no retorno daquele, numa infrutífera tentativa de reposta.
Assim badala a noite, ou o dia, num qualquer lugar de sedução; sempre se diga, para os mais incautos e inflexíveis, que a referida sedução não se circunscreve à heterosexualidade, mas a toda e qualquer relação humana. Tocará um Quaresma que, tão suavemente carrega, entre a relva, o sagrado esférico; atingirá um “parlamentar” Sócrates que, por mais questionado, contrariado, desmentido e errado sairá sempre vencedor nos, hodiernamente, debates quinzenais do nosso Parlamento; e concretiza-se na singularidade de cada um de nós com o outro, na beleza do olhar reflectido, da reacção à nossa acção, ainda que meramente intencional.
Em sã loucura, o espelho isolado de casa. Nós e só nós. Quietos ou agitados, mas apenas em nós. Sem mais. Gostar de rir, agitar, tropeçar, rebolar e cair, levantar, rodopiar e tornar em nada, como se nisso se esgotasse o belo do sorriso. Ser para não ter ou não chegar, apreendem-me? Percorro a música e nisso me resido, desvairando em pensamentos perdidos de puro divertimento abstracto e sorrio no fim, esperando o que venha, sem recear a chuva.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Música "Ad Eternum"

Plana a leve ave,
E sofregamente se aquieta na rugosa nuvem,
Esperando a condensação daquela,
E o fenómeno da pluviosidade.

Desgosta-a, pois embora envolvente,
Imagina demais nuvens,
Imensos outros brancos poisios,
Porventura mais que o mero perfeito.

Nunca foi geógrafa, nem cartomante,
Limita-se, no correr dos dias, a colectar,
Experiências, coisas demais e acrescentos,
O âmago, que quis, à muito que alcançara.
Fora aqueloutra nuvem, na 1.ª estrofe mencionada,
Tarde, porém, o dia que o certificara.

Sonha a ajuda do Vento,
Tal qual eu sonho a ajuda do Tempo,
Volta Nuvem, torce-te e recebe-me,
Sou o teu destino.

sexta-feira, 21 de março de 2008

O VENTUROSO (II)

Consagrou-se, na forma reflexiva do verbo, ou consagraram-no a sua mestria no software que criou, destinado a dar amparo aos solitários pilotos e ajudante, na tarefa de pouso de aeronaves e inerente conteúdo, mesmo que mero vácuo.

Era uma tarde de Sábado, vazia de ocupação social. Amigos? Contados pela mão, de duas seria maneta. Defronte do monitor, um sem fim de números, ainda que não mais de dois. Incoerente, mas possível ou não fossem zeros e uns. Juntando-os em determinada forma e em certa quantidade, adicionadas relações e interacções, tudo estancara sempre no mesmo ponto: resolver o programa dando-lhe uma particular ferramenta, de fácil manobra, pois árduo era já equacionar bichos gigantes de motores e turbinas, tamanhos tais, diz o povo que viu e aqueloutro que depois soube, que derrubariam duas gigantes, nova-iorquinas torres iguaizinhas, ditas gémeas, mas de parideiras diferentes, talvez uma da “Somague” e outra da “Soares da Costa”.

Fez uma pausa. Sobreaqueceu leite já arrefecido e após inspirar o cheiro libertado, pelo mergulhar do pau de canela no fervido leite, mesmo antes de nele depositar o já feito e frio café, o herói transcendeu-se, montanhou-se e fez o não feito: resolveu e maravilhou o mundo, ainda que este isso não soubesse, já, pois pouco tardaria a nascer o dia, o dia do nosso génio. Descrente ainda do seu produto, informático, gastou o resto de Sábado e cada um dos 172.800 segundos do Domingo, minto, desperdiçou alguns deles entre degolar restos de comida e expulsar o que o corpo rejeita.

Confesso que ele nem ria, pese embora adivinhasse o garantido sucesso. Entrou no edifício da multinacional, onde quotidianamente desenvolvia o seu trabalho, mas sem subir ao seu gabinete. Quedou-se pelo sofá da recepção, aí se alongando, fazendo cair o pescoço nas costas do referido alojamento. Eram já as 11h, quando tomou o elevador, depois de conseguir pensar duas lateralidades. Sim, lateralidades, pois o essencial era exibir o magnânime programa e desfrutar a vida, mesmo trabalhando-a. A primeira lateralidade foi notar que todos quantos ali passaram não o conheciam ou tão mal dele se lembravam que nem o digno “hola” vociferaram. Mais idiota só a quietude das três agitadas recepcionistas, fechadas nos seis telefones que as ladeavam e no constante processamento de textos e mais coisas em folhas tratadas.

Tomado o elevador subiu ao seu topo, quase nem sabendo dedilhar o botão respectivo, pois nunca passara um piso acima daquele onde ficava o seu gabinete. Apenas uma vez subira um andar, para entregar um “Compact-Disc”, vulgo CD, ao seu imediato superior hierárquico, já que, nesse tormentoso dia, a rede LAN não funcionara no prédio. Chegado ao último piso, a dez metros, o imenso gabinete do presidente da multinacional, ainda que espanhola. Três passos dados, foi interpelado pela secretária do Sr. Presidente: – Aonde vai?

Queixo excessivamente erguido, ignorou qualquer ruído ou som articulado, indo directamente ao supremo gabinete. Irrompeu pela porta, fitou o Sr. Presidente, que ao telefone estava, ao telefone continuou, mas inerte, atónito perante tal invasão. Sem sequer proferir uma palavra, de imediato abriu o “laptop” que consigo trazia. O programa estava já aberto, em modo de suspensão o portátil estava, num ápice se iluminou o seu monitor e, após a clemência de um minuto pedida, mostrou o ouro moderno que construíra, como tempos atrás, fizera Midas.

(pergunto-me como será isto verosímil, mas sempre lembro um ingrediente destes fáceis, na acessibilidade, Srs. Presidentes de multinacionais informáticas: a simplicidade do carácter, como quem para chegar ao sistema operativo e explorar o computador carrega apenas num botão e o resto espera somente um clique, sem mais por onde ter de correr. Duvidam? Mas foi verdade, num programa por muitos usado)



_______________________________________________________

O VENTUROSO (III)

Acapulco, dentre os vários locais onde esta multinacional operava, foi o escolhido pelo Albuquerque, o já dito nosso herói. Redundou num prémio auto-infligido, envolto num misto de prazer e concretização, pela via do labor, no programa operacional de aterragem de aeronaves no aeroporto de Acapulco.

Viagem marcada, com partida agendada para as bem cedo sete horas da matina, no segundo maior aeroporto da Europa de então, Barajas, Madrid. Controlo de armas e demais objectos ultrapassado, aguardado o momento de entrada no avião, sentou-se no banco 26 da fila J.

Ao seu lado, um longo decote. Sempre equiparara o espaço entre tais edificações a um vale, nalguns valioso, noutros pobretões, comuns artifícios do mulherio, na busca de alheio reparar, cujo intuito sempre questionei – aceitação social? Aí sempre se perguntará, porque rejeitam, então, quem as quer agitar? –.

Exibia ainda um mediano piscar de racha de saia travada, terminada logo após o joelho quando em pé, um palmo antes se sentada. Naquele momento em que o Albuquerque se apossou do lugar 26, fila J, ela, imediatamente ao seu lado, retirou o longo casacão, aí se denunciado. Os olhos que até ali se resumiam a duas folhas A4 e ao livro que lia – “Guerra e Paz” de Leon Tolstói –, queimaram no rosto do nosso personagem. Estarreceu. Congelou. Pasmou. Decorreram três segundos em total inércia contemplativa, perante a monstruosa beldade física ao seu lado.

No tronco, além do vale de decote, dois seios redondos, ligeiramente ovais nas extremas superiores e inferiores, devidamente abraçados pelo sutiã, mais exibindo um tom tigreiro na pele, não seca e espantosamente apelativa ao meu suspiro. A face, de temperada cor morena, destacava os seus olhos e, na busca do seu sorriso, depois de ter tocado o seu braço e disso me desculpado, obtive o troco em forma daquele, do sorriso. Fabulosamente luminoso, fotografei-o em memória. Nada mais me lembro, senão aqueles centímetros quadrados de boca alegre, dizendo “Não faz mal”, no instante logo após, já sem som, naquele micro segundo de sorriso quieto, amiúde buscado nas fotos. Após o seu terminus e após interiorizá-lo, caí com o olhar no chão, no meu lado esquerdo. Nesse correr de espaço visual, as suas pernas. A saia justa gritava a forma desta, notoriamente tonificadas sem músculo visível, femininamente delgada, sem mentiras afinal flácidas ou sem excessos de “testosterona muscular”.

Sexualmente incitado por tão puta provocação, auto-sentenciou-a como a próxima ceia. Assim era o Albuquerque, profundamente deselegante no que a elas toca, exasperadamente irresistível. Com a frieza de quem tem fome e busca presa de foda, disfarçou o enleio, altivou-se e fez-se. Sem vírgulas, sem pausas, numa única frase: – “Quero-te.” –. Isto dito, sorriu e potenciou esse gesto, em largo e demorado riso.

Ela? Como ele as sabia! No rosto, ela espelhava o profundo choque por tão infame ditame, mas a sua libido desmentia-lhe a expressão. “Agora? Quer-me? Quem pensa ser ele? Criou aquele genial programa e, agora, arroga-se num D. Juan porno? Como o quero… Já.” – eis a narrativa da sua actividade intelectual, bem dominada pela crescente vontade de aceder ao “Quero-te” dele. Respondeu: – “Sim, Albuquerque, agora e ali, no wc do avião.”

No seu jeito de desmascarado dissimulado, engoliu o espanto pelo facto dela saber o seu nome. Na perversidade dele, isso resultou num belo apimentar do acto de a usar e terminar aquele ponto de rebuçado sexual.

Contou três minutos, em pedaços de cento e oitenta segundos – nunca isto vira, permitam-me enquanto narrador, destacar: extasiado em erecto pénis, contando números até ao total de 190 reduzido de 10 – e correu para ela. Nos quinze metros corridos até ao wc do avião, o torpe Albuquerque tomou uma irredutível resolução.

Dias antes de partir, soubera que em Acapulco iria ter a companhia de uma virtuosíssima engenheira informática, premiada, à dias, com o Nobel Dinamite da Engenharia, daquela Sueca Academia. Riu-se nesse dia. Uma mulher? Era ela, assim se explicaria saber o seu nome e deixar-se, levar, sem esforço para uma pura exibição de hormonas, num inóspito cubículo de avião. Naqueles quinze metros, percorridos que foram dois, decidiu matá-la. Uma tamanha tentação apagá-lo-ia e faria emergir a sua única fraqueza: Mulheres, como ela, Irresistíveis, onde nos resta apenas a rendição ao seu corpo.

Bateu e logo abriu a porta. Aos seus olhos as despidas costas dela: tocou-as, quentes e macias, derrubou a face esquerda do seu rosto nelas e aquietou-se, enquanto lhe palpou o joelho direito, procurando mergulhar a mão dentro da saia. Subiu-a o suficiente para lhe sentir as cuecas que não tinha. Em louca insubordinação alargou a mão tocando-lhe todo o meio das pernas, em erudito dizer, a vulva. Sem mais, apoderou-se daquele pedinte pedaço de corpo e encetou o alienado acto da cópula, vaginal no caso. Firmemente penetrada, após estabilizar as mãos nas ancas dela, quis-lhe os peitos, tomou-os na palma de suas mãos e dez dedos, sentiu-a perto do êxtase e, em egoística prática, tratou de expulsar a loucura do tesão tido, de forma cuidada, ejaculando-se para fora dela. Já frio e maquiavélico, tangendo-lhe veemente com a mão esquerda o clítoris, com a direita puxou-lhe o pescoço atrás, abri-lhe a boca e do bolso retirou o pacote de cianeto.

Daqueles quinze metros, entre o terceiro e o décimo quarto, quando se dirigia para o wc, tirara da sua carteira de moedas a arma que, em imemoriais tempos, ali colocara, salvaguardando um perigo que sonhou, na madrugada precedente. Era aníon de cianeto em forma de pó, guardado numa saqueta, de tamanho inferior a uma moeda de dois cêntimos europeus.

Eis então que, entre o friccionar do segredo da Mulher, a boca aberta clamando gritar “Orgasmo” e pescoço atrás repousado, ele, no auge do clímax, no instante do grito e dos olhos eclipsados, despejou o pó cinza esbranquiçado e ela, sem reacção, gemendo de queixo atrás caído, engoliu tamanho veneno.

Limpou quaisquer seus vestígios e arrumou-a, despenteando-lhe o cabelo, deixando o saco de cianeto ao lado, sentou-a na sanita, não sem antes retirar da ponta dos dedos as peles artificiais que cobriam os seus dedos. À socapa, saiu, batendo a porta, na posição ocupada.

Já no aeroporto de Acapulco, apanhou o táxi e só na casa que lhe havia sido destinada, três horas depois de uma soneca reles e tremida, ligado o televisor, notou a notícia que marcava a actualidade: a recém Nobel Eng.ª faleceu a bordo do avião que ligou Madrid a Acapulco. A polícia mexicana investigava já o caso. Ouviu baterem à porta, abriu e, temerosamente, olhou os Polícias. Inquiriram-no sobre o voo, sobre se vira algo de suspeito, a tudo dizendo que não, nem tampouco reconhecendo a foto mostrada. Mais disseram os agentes: – “São procedimentos de rotina.” – ; Insistiu: – “Mas não há nenhuma suspeita? –; Num espanhol muito próprio, quase dialecto, explicaram-lhe que tudo apontava para suicídio… Depois de melhor a investigarmos e vasculharmos a sua vida, talvez o tivesse feito pela pressão vivida nos últimos meses, na busca da Quimera, ao caso o Prémio Nobel (não com um intuito meramente exibicionista, mas apenas como angariador de fundos patrocinadores de futuras investigaões).

Aliviado, quedou-se pela sua vida e matou a ocorrência experimentada naquela viagem. Riu-se em largas gargalhadas: “Era perfeita a teoria. Suicídio pela pressão sentida: o típico feminino.”.

quarta-feira, 19 de março de 2008

IMUTABILIDADE NO LAÇO E NA PRESENÇA

Aos 19 de Março de 2008, do século XXI, D. C., da era cristã, uma ligeira nota auto e hetero biográfica. Sem copiar, no meu timbre de obstinada diferenciação, é perene, horizontal e inquestionável a admiração por ele. Cedo, senti certo e merecido o devido respeito.

Fruto doutra educação, de diferentes axiologias, nem por isso reprime uma inata maleabilidade ao tempo, ao variar do social e a mim, a mim. Joga à bola comigo ao Domingo, embora remonte a 1954, 22 de Junho de sua graça. Nada ou pouco mais (o que considerando o meu egocentrismo será muito), me dói de forma tão severa do que falhar perante ele, frustrando uma sua razoável expectativa – só me sobra não o fazer.

No mais, o sonho realizado de ser um bom pai, que recolhe críticas, não as enjeita e responde em tempo e bem. Figurará S. José no presépio católico, como figura de menor destaque, nem por isso prescindível. Embora mais simples, humilde e limitadamente humano, é o paradigma do equilíbrio, fulcral ponto da vida comunitária.

Assim, és tu Pai.

quarta-feira, 12 de março de 2008

POR ONTEM E TRANSANTEONTEM

Num inegável patriotismo comentariado, sob a desculpa de um jogo, suplantámos o mortal quotidiano e agigantamos uma cidade e seu clube de futebol, como o melhor da Europa, tempos depois, melhor do Mundo. Como sabe bem lembrar tempos recentes de glórias além fronteiras, ainda que contem, já, três vezes 365 e quase uns 366. Isto hoje porque ontem emergiu na nação portista a frustração da meta tocada e não ultrapassada. Abomino repetições e moralidades continuadas, mas, para infelicidade minha e de outros tantos como eu, o “lack” de coragem de Jesualdo na primeira mão fez-nos pagar um preço bem caro. Permitam-me corrigir, falta ao Jesualdo um querer assumir o jogo de forma explícita, mormente naqueles supostamente mais difíceis, privilegiando ou guarnecendo de mais o lado e o momento defensivos do jogo portista, em detrimento da saída para o ataque, que ele tanto quer rápida, mas que se mostra prejudicada pela falta de jogadores prontos a executar tais tarefas, já que estão predefinidos para serem mais cautelosos. Falo de Raul Meireles e Lucho Gonzalez, os dois jogadores instrumentais na transição entre esses dois momentos essenciais do futebol e que no jogo disputado na Alemanha não gozaram duma tão grande liberdade táctica como ontem, ou se preferirem, não receberam do seu treinador o incentivo e confiança necessários para jogarem mais adiantados.
Deixo aqui uma sincera vénia à manga de jogadores portistas: soberbo jogo, o de ontem, naturalmente com imperfeições, mas direi que foram tão-somente as bastantes, para acalentar a evolução no futuro (ainda que, espero, sob a égide doutro mestre de embarcação). Se dontem alguma coisa positiva resultou, talvez a permanência por mais um ano do trio decisivo no ataque do FC Porto, Lucho, Quaresma e Lisandro. Oxalá permanecem ou, destes, apenas um parta. Sejamos assim, apenas e menormente, campeões nacionais.

terça-feira, 11 de março de 2008

FELIZ DAQUELE QUE SE BASTA

Um aplauso ao idoso do Mogadouro, entrevistado, hoje, no Jornal da Tarde da RTP1 que, a propósito de uma reportagem onde se retratavam as largas deslocações dos habitantes de Trás-os-Montes, para obterem uma consulta de Oncologia, quando questionado sobre se conhecia ou não, que o Estado subsidiava o transporte nas referidas deslocações, respondia o seguinte:

– “Não sabia, mas também não interessa. O Estado já tem muito prejuízo com nós.”
Neste português de instrução primária, talvez fruto duma vida de cedo trabalho, nem por isso baixeza no carácter. Fica-me a dúvida, ainda que não hesite num desfecho: ignorância no crescimento intelectual, baseado numa qualquer concepção de Estado Social, ou propositado altruísmo social? Não se menorize a primeira hipótese, cite-se, antes, a inconsciente feliz camponesa de Pessoa ortónimo:

“O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
...Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério. ...
Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar...
Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais. ...
Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido.
Ó horrorparadoxal deste pensar...
...Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!”
Do criador sem fim, Pessoa Ortónimo

domingo, 24 de fevereiro de 2008

I HAVE A DREAM

Era assim, à bem pouco tempo. Data de 28 de Agosto de 1963 o celebríssimo e celebradíssimo discurso deste enormíssimo estandarte humano da Liberdade. Gritaram anos antes, na revolução francesa os três badaladíssimos ideais: fraternidade, igualdade e liberdade; porém, foram três os séculos demorados a atravessar o Atlântico e a, na América do Norte, depositar, de forma concretizada, ainda que mitigada, no quotidiano, tais axiologias.
Hoje, 24 de Fevereiro de 2008, quase nem me lembraria o nome do actual presidente da única super potência mundial, não fossem as atrocidades imensas e o desgoverno militarista praticado, quer como fomento das indústrias de armas (propriedade de empresas com participações da família Bush), quer doutras indústrias como a petrolífera, em clara rejeição da energias alternativas (imagine-se que a referida super potência mundial, pese embora o suposto desenvolvimento tecnológico que exibe, é dos países menos avançados na utilização de energias renováveis; mais, tristemente, engraçado é dizer que nos EUA a compra do metal usado na produção de moedas de “penny” ou “nickle” revela-se altamente prejudicial, pois o próprio metal usado é mais valioso do que o “valor” de cada uma das moedas mencionadas – o tristemente engraçado, além disso, é que não se decide abolir tais moedas, que não permitem comprar nada, porque são usadas em acções de recolhas de fundo de beneficência – mas que argumento tão menor e hipócrita…é a actual América…).
E agora? Obama! Esperemos bem que sim. Espreitem: http://www.youtube.com/watch?v=47MKGOPP4Zo ; Porquê acreditar? Não tenho resposta, só feeling… Em verdade, sinto que, depois de sucessivas abordagens e políticas fundadas em determinadas crenças, mais partidárias ou mais pessoais, não antes foi concretizado o significado que parece resultar das palavras de Barack Obama, pelo menos de forma tão objectiva quanto ele demonstra. E o mundo precisa dessa mudança, do aprimorar outros lados, para se desenvolverem outras coisas, saturadas que estão umas. E é aí, é aí que reside o meu feeling. Esperemos então por 4 de Novembro de 2008, quando Obama for eleito presidente dos EUA. Até lá aguente-se o mundo…




[ah, e um pouco (mais) de história: http://www.youtube.com/watch?v=7zHPsGtKk_Y ].

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

ENCOSTA GREGA

No alto, intocável às marés, o afiado gume da encosta,
Violento o constante e ondulado embuste na rocha,
Imovível aos nus olhos de quem a fustiga,
Nova salgada água a há-de assassinar.

Morrerá fragmentada, cedendo à força erosiva da água,
Serão, porém, muitas as horas de dor,
Encobertas em alegada e apática indiferença.

Sempre só, ainda que amiúde contemplada,
Cerra o olhar no superior horizonte,
Crê na sua auto-suficiência,
No mero cumprimento do ideal de autocracia grega.

Ei-la no presente e no amanhã,
Em risco de morte assumido
Sendo certa a glória inerente.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O VENTUROSO (IV)



É o dia do seu aniversário. Conta as paredes: – Quatro! – grita, como que anunciando a todo o prédio; – Cinco com o biombo! – e ri-se, despregadamente, como só quem está só pode. A idade de Cristo era a sua, 396 meses concluídos no dia anterior, mergulhando no tricentésimo, nonagésimo sétimo mês.


O tórrido calor, ainda que a data assinale 18 de Fevereiro de 2010 e estejamos no Hemisfério Norte, México, Acapulco, fê-lo manter-se escondido no escuro do pequeno quarto, aonde dormitava, quando calhava. Doze horas e trinta locais, levava vinte minutos de acordado, quando, corpo molhado no banho de água fria, saiu do seu casulo de casa.


Naquele distante país, contava por nenhum os amigos e esquecidas as mulheres arrebatadas. Sorrio quando não rio de lembrar tamanho paradoxo: um génio informático, supostamente nerd, a final, como se diz em latim, um Viriato do coração das escolhidas. Eram as mãos, só podem ser as mãos. Corriam toda a sua expressividade, entre os sons da boca, os hesitares do olhar, ou simplesmente o silêncio comentado em gestos; quase olvidava o fundo dos seus olhos: límpidos como os rios que em Portugal não há, que tão bem centravam a atenção delas.


Menti: os referidos zeros amigos, bem contados, redundavam num. Era velho, já quarentão, loiro queimado, sempre muito calado, apenas balbuciando sons, quando agitado. Todavia, era um companheiro de muitas horas, especialmente as vagas, das ondas e do tempo vazio não ocupado: uísque!


Ida, ligeira, a hora de laborar, hoje bastante pacata, já que nenhum insurgente informático tentara atacar o sistema de distribuição eléctrica da cidade, recolheu a casa. No velho descapotável, já pelas vinte e uma horas não voltou ao apartamento. Arrojou a curva que o levava à marina, numa repentina manobra de guinada à direita, esvoaçando o ambiente e derretendo borracha de pneu, naquele seu jeito de apressado exibicionista. Sério? Sim. Diante do trabalho e só quando bem pago.


– Quantos são?; – Eu e apenas eu – espreguiçou, perante o recepcionista do restaurante, no seu espanhol ibérico perfeito, não fossem os longos anos de Madrid. Sentou. Escolheu. Jantou lautamente água. Não era apenas água, não era somente bebê-la, era recuperar a alma. Naquela curva e guinada à direita, muito mais se decidira que um mero jantar solitário de aniversário. Desse opíparo líquido, tão distinto no México, pelo menos na forma engarrafada, muito se transformaria, como se, ali, se houvesse desvendado o segredo da alquimia do ser, esculpindo na mais perfeita forma: a inocência e o assumir do erro (que sempre se lembrará).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

SELECÇÃO

Idos cerca de três anos e meio sobre o Euro 2004, Portugal defrontou a Itália na Suíça e acabou derrotado por 1-3. Em consequência, a reflexa reclamação face a tão valiosos jogadores, em quase todas as posições (excepcionem-se as de defesa esquerdo, médio defensivo e ponta de lança). É claro que temos jogadores de elevada qualidade técnico-táctica, porventura até individualmente de carácter consistente, ainda que moldável, mas que falham no sentido colectivo e inerente dinâmica colectiva.
Óbvio: urge criar uma equipa e não, meramente, colocar os valores a jogar. Nunca sendo acrítico, reconheço o mérito da era Scolari e da sua metodologia. Ainda assim, como já fora algures celebrizado, não há vacas sagradas e nem o mentor máximo está isento de críticas. Falam-se rabos pesados, tiques de estrela, mas, em boa verdade e na mais crua e directa das análises, falta obter dos jogadores de Portugal, mais do que a soma do jogo de cada um. Importa encontrar ou trabalhar o algo mais, que no futebol traduz matemática diferente, isto é, um mais um não é necessariamente igual a dois, pois se Quaresma e Ronaldo jogarem juntos darão quatro ou cinco…Basta lembrar a clamorosa oportunidade de Portugal ter inaugurado o marcador contra a Itália (mesmo antes do primeiro golo destes), em que o cigano endereça a bola ao C. Ronaldo com demasiada força, talvez crente na velocidade deste, mas que não foi tão supersónica, pois quando encontrou a bola estava já completamente desenquadrado com a baliza e a equipa italiana havia recuperado. Trabalhe-os Scolari.

Sempre me perguntei como conseguiram os ingleses, tão pequenos no global planeta serem tão gigantescos em quase tudo… Temos o Japão, também espacialmente diminuto, e uma imensa potência mundial. Há, em contraponto, países geograficamente imensos como o Brasil, a Índia ou outros, ditas potências em emergência, mas ainda a anos-luz da qualidade de vida dos países ocidentais ou dalguns mais a Este, como o Japão.
Desfrutemos destas glórias entre nações, enganando a razão e esquecendo o muito que falta, em tudo o resto.

The Doors - People are Strange

Soberba esta música...Aglomera um sentimento universalista de anonimato social, tão badalada preocupação hodierna é; simultaneamente, identificamo-nos, na singularidade do nosso ser, com as amiúdes incompreensões dos outros.Música "ad eternum".

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O VENTUROSO (I)

Duas horas batidas no audível e avelhentado relógio de sala, castanho escuro, duma qualquer Nogueira feroz e imponente. O que lutara para vestir a sua seminua sala com tal objecto, pelo qual suplicara, que nem pedinte, aos seus tios, aquando do inventário por conta da herança do seu avô.

No silencioso escuro, nem os passos da rua ecoavam naquela madrugada de domingo para segunda, tão morto tudo estava. Já decorreram nove anos desde a morte de seu avô, mas nem por uma noite e um adormecimento, ele o não lembrara [ressalvem-se as noites de boémia companhia, mulher (es) ou copos]. Quando voltava a si, caído do superior patamar de reavivar velhas tardes, via-se dominado pelo largo sorriso, espelhando na íris dos olhos o rosto fraterno, distante e quente de seu avô.

Embora lautas de rugas, as suas mãos, calejadas com o rigor do árduo labor, o esforço do corpo na argamassa ou fios eléctricos, sempre foram unicamente delicadas, denotando a infinita paciência de uma avô a um neto, irreverentemente venturoso. Eis-lo, sem ele e tanto dele, tanto querendo igualá-lo na sua axiologia praticada com todos, amigos ou desprezadas pessoas, ainda que sempre insistindo no seguir do instinto.

Barajas. Vive num subúrbio de Madrid, uma entre tantas cidades dormitório, esta musicada com o fragor dos sem fins baratos voos, nesta nova e fascinante proximidade citadina dentre nações. Sorriu-lhe o destino do mundo laboral, quando evocou a sua brilhante destreza intelectual, na tão hábil flexibilidade de comutação de números, alguns com mais de vinte e três algarismos, nos sempre banais zeros e uns informáticos. Conta-lhe o tempo vinte e oito anos, em boa verdade, haverá que a estes juntar outros mais meses, quatro, no limite de hoje.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Tributo ao Portugal Desportivo Profundo

Nem se riam dos erros ou de tudo, mas aplaudam quem se expõe. O Eduardo Prado Coelho, aquando da sua morte, reuniu, em inquestionável vénia, o sentimento de reconhecimento pelas brilhantes críticas ou lados que destacou... Quem é mais? O actor ou crítico? O povo ou o filósofo/sociólogo? O produtor ou o analista? Sem dúvidas, os actuantes... Concordam?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

HOJE.

Chega sempre fausto ao porto,
Arrasta ao seu lado robustas ondas,
Imponente na frontal proa,
Inexorável aos pequenos botes que capota.

O seu horizonte tão sobranceiro e distante,
Nem se perturba em fitar quem o reclama,
Altiva-se inatamente, apenas porque pensa,
E apenas porque sabe que o faz bem.

Todavia, no inesperado dia da Tormenta,
O peso da sua magnitude impede que se esconda,
E fica, sem mais, vulnerável,
Como aqueles pequenos botes descobertos e abandonados.

Da imperial Força do Tudo,
O Nada igual a Todos,
E o erro em tão frontal e efectivada premissa.
Vivam a Europa do pós II Grande Guerra ou a Lisboa Pombalina!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

ODISSEIA

Equiparável ao sem fim Tempo,
Apenas o sem fim Espaço,
Soberanamente copiosos os segundos em que me fixas,
O momento em que inebrio a tua alma,
E dela ressalta o brilho que os teus olhos confessam.

O profundo suspiro, em resposta,
Denota a força com que se vivencia,
Enlevados se confessam os “Amados”,
Diluídos naquele sentimento de Quimera.

No toque daquele gesto lento e suave,
O arrepio quente de quem sente,
O beijo de regresso e a mão de enlace,
Em tréplica, o sorriso etéreo e perene.

Olvidámos que os instantes corridos não se repetem,
Acreditámos na iteração do supremo,
Tão humanos somos.

Não!
O corrido tempo nunca se conjuga no Futuro,
Mas, em quotidiana evolução, habita a solução.
Ao espaço e ao Tempo e à unicidade das suas ir(reverências).

domingo, 13 de janeiro de 2008

PAZ

O helénico Olimpo, no cume deste monte,
Nunca devolve os olhares, preces e tudo mais a ele apelado,
Narrativas há que juram, de honra,
Ser este um palco de Ferinas lutas;

Naquele dito Santuário em lusas terras,
Reina a quietude de joelhos escoriados,
Expiam-se erros ou desventuras,
Na crença da sua superação.
Nisto, a Paz Interior.

Resta, a Paz Social.
Aquela que não existe,
Ressalta apenas em ideias,
Como o “Imagine” do Lennon ou a "Utopia" de More.

Na imposição da evolução,
No não consenso dos caminhos,
No estabelecimento de horizontais axiologias,
Reinará, perenemente, a incomodidade e o conflito, até de morte.

Riam-se: não é perverso;
Morre-se para viver,
Fenecendo mais além do colo donde paríramos;
Do infinito espaço, a não finda metamorfose.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

GUERRA

Sumido o vigésimo século da era cristã,
Nele não se contornam as Duas Grandes Guerras;
Desde as trincheiras até aos ataques aéreos,
Pesam os heróis e suas histórias,
Deslembram-se os mortos, sem fim contado.

Rodem o Globo e, mofinamente, notem,
É geral o mal e universal o nojo,
É principesco o Amor
E de rei o Ódio.

Guerra? Espelhem o que somos,
Transpirem para os poros os interiores sentimentos,
Cheirem a negatividade e a descrença ao Outro,
Aí, nesse desequilíbrio, sobranceia a Guerra.

Matar com mandato,
Matar sob desígnio, endeusado ou nacionalista,
Matar, decidindo em instante reduzido,
A sorte do azarado inimigo,
No papel que troca conforme sopra o vento
E encontra, em guarda ou descuido, o hostil próximo.

Lutam-se domínios,
Prevaleceres, maioridades sem maturidade,
Teimosias e orgulhos, economias e riquezas,
Em tanto se resume a Guerra,
Em pouco se perde a Vida.
Rio da vã glória do guerreiro vencedor,
Exorto a fraqueza de mais um morto que nem choro.

E as Guerras Legítimas do Conquistador?
E de tantos outros que corporizaram Nações?
Não sei. Eis-me aqui, no Portugal conquistado, à custa da frieza de Guerras…
Justas? Ouso dizer não, ancorado na crença do homem maior e Universal.

No fim, Paz.
O eterno retorno, ainda que alterado.
Conforto para uns, aridez para outros;
Guerra, a mortal conquista,
Cedo nuns, tarde noutros, sem mais que haja.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Toda a Verdade

Lisboa – Dakar 2008
Tudo a postos para arrancar a maior caravana do mundo. Atravesso o pensamento e julgo não cair em erro ao classificar a caravana do Lisboa – Dakar como a maior caravana do que quer que seja… São 600 equipas, jornalistas, organização, enfim, um sem fim de tudo.
Cancelaram. Quando? Na véspera, não fosse alguém não estar a postos para a partida. Querem o motivo? Eu dou. Seguradoras. Seguradoras Francesas. Após as recomendações do Governo Francês, baseadas nas informações das Suas Secretas, que interceptaram telefonemas de membros terroristas da Al-Qaida, a organização francesa do Lisboa – Dakar decidiu cancelar a prova. É absolutamente monstruosa a rede de patrocínios, de investimentos que se perdem e não obtêm o respectivo retorno… Até a taberna do “Ti Chico” em Portimão, que tinha encomendado trinta e sete grades de cervejas, vai ficar com o stock cheio, a aguardar melhores bebedeiras.
Um valor inquestionável emergiu. As vidas humanas? Não, as contas bancárias das seguradoras francesas que cobrem/asseguram os riscos inerentes a uma prova deste tipo. Estão no direito delas? Até estão, pela alteração excepcional das circunstâncias no qual negociaram (vide Cód. Civil), mas custa. Se já frusta de forma tão evidente os vários pilotos, dói-me ficar privado este ano das imagens deste extraordinário rally e tudo, tudo por meras ameaças terroristas…
Como sempre, em mais um meu apanágio da liberdade, porque não colocar na disponibilidade e esfera decisória dos participantes tal risco? O eterno paternalismo organizativo é salutar, mas ao ponto de se cancelar uma prova, com base em ameaças…? Já nem discuto o cancelar de certa etapas ou o rápido re-desenhar dalgumas delas, não discuto porque não acho justo. Agora, injusto é privar-nos desta prova, quando tantos actores se predispunham a correr tal risco. Será justo permitir tal exposição? Sim, a vida humana é inviolável, mas é igualmente indelegável. Ao risco, pois!

Petróleo
Veiculam alguns doutos sapientes génios que, pasmem, nos últimos anos as reservas de petróleo aumentaram… Diz que se descobriram uns quanto mais poços de petróleo… Acredito, mas a desinformação é tão quotidiana, que não se deve fechar os olhos nem à escuridão.
Em breve, deverá o mercado de Londres atingir, como já aconteceu na Bolsa de Nova Iorque, os $ 100,00 por barril… Analistas há que afirmam sem hesitar: durante os próximos cinco anos manter-se-á esta escalada do preço do petróleo. Li há dias que em cada hora de energia que consumimos (eléctrica, entenda-se) cinco minutos são provenientes de fontes renováveis, mormente da eólica. Aplauda-se, mas reinvista-se bem mais neste sector, sobretudo aproveitando a costa portuguesa e a força das ondas.
Há, concomitantemente, a concreta questão dos carros, “always oil addicted”. Os híbridos são pouco atraentes aos olhos do público e, confesso, aos meus outrossim, mas, como sempre na Humanidade e na superação das crises, tudo se recria. Sem alarmismos, sem sequer ousar conjecturar um associativismo maior nos países produtores de petróleo (imaginem os países sul-americanos unidos aos países do Médio Oriente), sem hipotizar que os EUA se dedicarão ainda mais à conquista do ouro negro (pela via das armas), espero um atitude mais firme da nossa União Europeia, agora eventualmente mais potenciada, com o renovado oxigénio dado pelo Tratado de Lisboa e um digno e inquestionável representante internacional dos 25. A aguardar e aguardar por muitos e largos anos (o que já não seria mau).

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

1 de Janeiro de 2008

Louvo-lhe o facto de ser feriado. Não que louve o facto de não trabalhar, que louvo desde que nesta pequena medida porque trôpegos não embarcamos na evolução e na luta pelo melhor dia de Amanhã.
Lutamos por isso: superar o dia de hoje. It’s whorth while? It’s whort it? Fucking good question… A resposta óbvia, dada no sentido positivo, esclarece que sim, pois sem espírito de crescimento limitar-se-ia o tempo a correr e a alma a perecer. Curioso reparar que até nesse aspecto nos acompanha o físico ou será a mente que o acompanha? Crescemos fisicamente e espera-se o incremento mental, afinal rejeitamos aqueles cuja idade mental não acompanhou o corpo...
Há estes dias, embora plurais, acontecem uma vez no ano. Parámos. Balanceámos e fazemos um balanço, ainda que não reuníamos nem um dos vários anos tendentes à obtenção do grau académico de licenciado em Contabilidade. Mais do que um Balanço, elaborámos vários, na eterna apetência para a tese, antítese e a síntese resolutória. Concluímos pela imperfeição, hoje, amanhã e mesmo mortos. Ao erro!