domingo, 24 de fevereiro de 2008

I HAVE A DREAM

Era assim, à bem pouco tempo. Data de 28 de Agosto de 1963 o celebríssimo e celebradíssimo discurso deste enormíssimo estandarte humano da Liberdade. Gritaram anos antes, na revolução francesa os três badaladíssimos ideais: fraternidade, igualdade e liberdade; porém, foram três os séculos demorados a atravessar o Atlântico e a, na América do Norte, depositar, de forma concretizada, ainda que mitigada, no quotidiano, tais axiologias.
Hoje, 24 de Fevereiro de 2008, quase nem me lembraria o nome do actual presidente da única super potência mundial, não fossem as atrocidades imensas e o desgoverno militarista praticado, quer como fomento das indústrias de armas (propriedade de empresas com participações da família Bush), quer doutras indústrias como a petrolífera, em clara rejeição da energias alternativas (imagine-se que a referida super potência mundial, pese embora o suposto desenvolvimento tecnológico que exibe, é dos países menos avançados na utilização de energias renováveis; mais, tristemente, engraçado é dizer que nos EUA a compra do metal usado na produção de moedas de “penny” ou “nickle” revela-se altamente prejudicial, pois o próprio metal usado é mais valioso do que o “valor” de cada uma das moedas mencionadas – o tristemente engraçado, além disso, é que não se decide abolir tais moedas, que não permitem comprar nada, porque são usadas em acções de recolhas de fundo de beneficência – mas que argumento tão menor e hipócrita…é a actual América…).
E agora? Obama! Esperemos bem que sim. Espreitem: http://www.youtube.com/watch?v=47MKGOPP4Zo ; Porquê acreditar? Não tenho resposta, só feeling… Em verdade, sinto que, depois de sucessivas abordagens e políticas fundadas em determinadas crenças, mais partidárias ou mais pessoais, não antes foi concretizado o significado que parece resultar das palavras de Barack Obama, pelo menos de forma tão objectiva quanto ele demonstra. E o mundo precisa dessa mudança, do aprimorar outros lados, para se desenvolverem outras coisas, saturadas que estão umas. E é aí, é aí que reside o meu feeling. Esperemos então por 4 de Novembro de 2008, quando Obama for eleito presidente dos EUA. Até lá aguente-se o mundo…




[ah, e um pouco (mais) de história: http://www.youtube.com/watch?v=7zHPsGtKk_Y ].

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

ENCOSTA GREGA

No alto, intocável às marés, o afiado gume da encosta,
Violento o constante e ondulado embuste na rocha,
Imovível aos nus olhos de quem a fustiga,
Nova salgada água a há-de assassinar.

Morrerá fragmentada, cedendo à força erosiva da água,
Serão, porém, muitas as horas de dor,
Encobertas em alegada e apática indiferença.

Sempre só, ainda que amiúde contemplada,
Cerra o olhar no superior horizonte,
Crê na sua auto-suficiência,
No mero cumprimento do ideal de autocracia grega.

Ei-la no presente e no amanhã,
Em risco de morte assumido
Sendo certa a glória inerente.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O VENTUROSO (IV)



É o dia do seu aniversário. Conta as paredes: – Quatro! – grita, como que anunciando a todo o prédio; – Cinco com o biombo! – e ri-se, despregadamente, como só quem está só pode. A idade de Cristo era a sua, 396 meses concluídos no dia anterior, mergulhando no tricentésimo, nonagésimo sétimo mês.


O tórrido calor, ainda que a data assinale 18 de Fevereiro de 2010 e estejamos no Hemisfério Norte, México, Acapulco, fê-lo manter-se escondido no escuro do pequeno quarto, aonde dormitava, quando calhava. Doze horas e trinta locais, levava vinte minutos de acordado, quando, corpo molhado no banho de água fria, saiu do seu casulo de casa.


Naquele distante país, contava por nenhum os amigos e esquecidas as mulheres arrebatadas. Sorrio quando não rio de lembrar tamanho paradoxo: um génio informático, supostamente nerd, a final, como se diz em latim, um Viriato do coração das escolhidas. Eram as mãos, só podem ser as mãos. Corriam toda a sua expressividade, entre os sons da boca, os hesitares do olhar, ou simplesmente o silêncio comentado em gestos; quase olvidava o fundo dos seus olhos: límpidos como os rios que em Portugal não há, que tão bem centravam a atenção delas.


Menti: os referidos zeros amigos, bem contados, redundavam num. Era velho, já quarentão, loiro queimado, sempre muito calado, apenas balbuciando sons, quando agitado. Todavia, era um companheiro de muitas horas, especialmente as vagas, das ondas e do tempo vazio não ocupado: uísque!


Ida, ligeira, a hora de laborar, hoje bastante pacata, já que nenhum insurgente informático tentara atacar o sistema de distribuição eléctrica da cidade, recolheu a casa. No velho descapotável, já pelas vinte e uma horas não voltou ao apartamento. Arrojou a curva que o levava à marina, numa repentina manobra de guinada à direita, esvoaçando o ambiente e derretendo borracha de pneu, naquele seu jeito de apressado exibicionista. Sério? Sim. Diante do trabalho e só quando bem pago.


– Quantos são?; – Eu e apenas eu – espreguiçou, perante o recepcionista do restaurante, no seu espanhol ibérico perfeito, não fossem os longos anos de Madrid. Sentou. Escolheu. Jantou lautamente água. Não era apenas água, não era somente bebê-la, era recuperar a alma. Naquela curva e guinada à direita, muito mais se decidira que um mero jantar solitário de aniversário. Desse opíparo líquido, tão distinto no México, pelo menos na forma engarrafada, muito se transformaria, como se, ali, se houvesse desvendado o segredo da alquimia do ser, esculpindo na mais perfeita forma: a inocência e o assumir do erro (que sempre se lembrará).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

SELECÇÃO

Idos cerca de três anos e meio sobre o Euro 2004, Portugal defrontou a Itália na Suíça e acabou derrotado por 1-3. Em consequência, a reflexa reclamação face a tão valiosos jogadores, em quase todas as posições (excepcionem-se as de defesa esquerdo, médio defensivo e ponta de lança). É claro que temos jogadores de elevada qualidade técnico-táctica, porventura até individualmente de carácter consistente, ainda que moldável, mas que falham no sentido colectivo e inerente dinâmica colectiva.
Óbvio: urge criar uma equipa e não, meramente, colocar os valores a jogar. Nunca sendo acrítico, reconheço o mérito da era Scolari e da sua metodologia. Ainda assim, como já fora algures celebrizado, não há vacas sagradas e nem o mentor máximo está isento de críticas. Falam-se rabos pesados, tiques de estrela, mas, em boa verdade e na mais crua e directa das análises, falta obter dos jogadores de Portugal, mais do que a soma do jogo de cada um. Importa encontrar ou trabalhar o algo mais, que no futebol traduz matemática diferente, isto é, um mais um não é necessariamente igual a dois, pois se Quaresma e Ronaldo jogarem juntos darão quatro ou cinco…Basta lembrar a clamorosa oportunidade de Portugal ter inaugurado o marcador contra a Itália (mesmo antes do primeiro golo destes), em que o cigano endereça a bola ao C. Ronaldo com demasiada força, talvez crente na velocidade deste, mas que não foi tão supersónica, pois quando encontrou a bola estava já completamente desenquadrado com a baliza e a equipa italiana havia recuperado. Trabalhe-os Scolari.

Sempre me perguntei como conseguiram os ingleses, tão pequenos no global planeta serem tão gigantescos em quase tudo… Temos o Japão, também espacialmente diminuto, e uma imensa potência mundial. Há, em contraponto, países geograficamente imensos como o Brasil, a Índia ou outros, ditas potências em emergência, mas ainda a anos-luz da qualidade de vida dos países ocidentais ou dalguns mais a Este, como o Japão.
Desfrutemos destas glórias entre nações, enganando a razão e esquecendo o muito que falta, em tudo o resto.

The Doors - People are Strange

Soberba esta música...Aglomera um sentimento universalista de anonimato social, tão badalada preocupação hodierna é; simultaneamente, identificamo-nos, na singularidade do nosso ser, com as amiúdes incompreensões dos outros.Música "ad eternum".

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O VENTUROSO (I)

Duas horas batidas no audível e avelhentado relógio de sala, castanho escuro, duma qualquer Nogueira feroz e imponente. O que lutara para vestir a sua seminua sala com tal objecto, pelo qual suplicara, que nem pedinte, aos seus tios, aquando do inventário por conta da herança do seu avô.

No silencioso escuro, nem os passos da rua ecoavam naquela madrugada de domingo para segunda, tão morto tudo estava. Já decorreram nove anos desde a morte de seu avô, mas nem por uma noite e um adormecimento, ele o não lembrara [ressalvem-se as noites de boémia companhia, mulher (es) ou copos]. Quando voltava a si, caído do superior patamar de reavivar velhas tardes, via-se dominado pelo largo sorriso, espelhando na íris dos olhos o rosto fraterno, distante e quente de seu avô.

Embora lautas de rugas, as suas mãos, calejadas com o rigor do árduo labor, o esforço do corpo na argamassa ou fios eléctricos, sempre foram unicamente delicadas, denotando a infinita paciência de uma avô a um neto, irreverentemente venturoso. Eis-lo, sem ele e tanto dele, tanto querendo igualá-lo na sua axiologia praticada com todos, amigos ou desprezadas pessoas, ainda que sempre insistindo no seguir do instinto.

Barajas. Vive num subúrbio de Madrid, uma entre tantas cidades dormitório, esta musicada com o fragor dos sem fins baratos voos, nesta nova e fascinante proximidade citadina dentre nações. Sorriu-lhe o destino do mundo laboral, quando evocou a sua brilhante destreza intelectual, na tão hábil flexibilidade de comutação de números, alguns com mais de vinte e três algarismos, nos sempre banais zeros e uns informáticos. Conta-lhe o tempo vinte e oito anos, em boa verdade, haverá que a estes juntar outros mais meses, quatro, no limite de hoje.