sexta-feira, 13 de junho de 2008

Conto (forma verbal)

0h26 quando a palma de sua mão correu todo o rosto e terminou entrelaçada em cabelos leves e finos, quentes e ternos, frágeis e duma sensualidade inquestionável, resumo-os como raios que circulam o centro da estrela Sol.

Ao seu lado, a sua razão de viver acabara de fenecer. Longas e saborosas as semanas, três, naquele certo caminhar para a morte, diagnosticado que fora, em estado avançado de golo, a maleita cancerígena. Incurável. Irreversível. Certa e mortal, ainda que não previamente concretizada.

Sem pressa de mais nada, procurou aspirar tudo o que sensoriava. Riam-se, mas ele cerrou os olhos, fechou-os e com tal força que todos os outros sentidos se intensificaram na procura de captação duma qualquer impressão… Em ironia, nada surpreendente do ser humano, ao horizonte do cérebro avivaram-se-lhe momentos com décadas, instantes de riso, de orgasmo, de partilha, de conquista e de tristeza a dois… Lembrou o dia do desmaio dela e como, em estúpido e inútil reflexo, a esbofeteou, ela acordou e, no seu tom resmungosamente sensual, replicou qualquer coisa como: “Queres levar?”… Não coube em si, compreendamos, como abranger tamanhas coisas, tamanha amplitude de tudo, bom e mau, mas sempre partilhado. Matou-se com um tiro.

Esta a história que ora ficcionei, mas deveras verosímil. Leiam:

http://dn.sapo.pt/2008/06/12/cidades/idoso_suicidase_depois_matar_a_mulhe.html

Ao fim, como no início, aproximando-os, o Amor a Dois. Vida.