sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O MALDIZENTE

Encostado a uma grade que delimitava a zona da Cimeira Europeia de Lisboa, junto ao Pavilhão Atlântico, naquela Quinta-Feira, dia 18 de Outubro, pelas 22h47, o ancião desalojado sentia já os rigores daquele Outono. O vento do Tejo arrepiava-o. Tanta altercação, ruído de sirenes policiais perturbava-lhe o início do sono, naquele caixote de frigorífico whirlpool, que usava já ia para duas semanas.
Farto do cansaço de não adormecer, revirado na vontade de acalentar, levantou-se e questionou o polícia mais perto (terá percorrido 139 metros até encontrar um, já que a 150 metros estava uma dúzia deles)… – Ai é uma coisa da União Europeia! Para quê? (sim, um normal polícia não perderia tempo a responder para além de uma simples linha declarativa, mas este excedeu-se, talvez para se aquecer do frio ventoso do Tejo): – Estão a tentar acordar um Tratado… Querem muito, querem, quer dizer, quer o Sócrates, que seja o Tratado de Lisboa… Isto é coisa para a noite toda…

O resto desta história não sei. Provavelmente perder-se-á no tempo. Eterno será sim o Acordo ontem celebrado a assinar a 13 de Dezembro de 2007, no Mosteiro de Jerónimos. Orgulho-me de ali estarem dois portugueses, Sócrates e Barroso. Enfim, a Europa ao Canto. Dir-se-á, como disse Jerónimo de Sousa, somos uns fantoches dirigidos por uma Alemanha que, per si, decidiu o teor do Tratado. Todavia, o mesmo Jerónimo gosta de correr o país lés a lés, em auto-estradas. Gosta muito de reclamar os fundos europeus, para a pobre agricultura ou a falida indústria portuguesa… Perdemos soberania, pois perdemos, mas como ensina o Mestre Adam Smith, “não há almoços grátis”… Congratulemo-nos pelo papel interlocutório em tudo isto. Perguntar-se-á: se fosse outro país, por exemplo, a Áustria a dirigir as negociações, tudo teria chegado a bom porto? Respondo: Não. Tentaram antes e não o lograram. Portugal mostra-se como uma meretriz internacional. Lembre-se aquela mini-conferência nos Açores, Portugal, Inglaterra, EUA (claro) e Espanha. Apoiámos o Iraque à época. Vistas bem as coisas, na Europa, só a França se opôs, à invasão. A Alemanha manteve-se relativamente silenciosa, apenas com umas “reuniões” de fachada. O quanto não se divertirá o Nuno Rogeiro (sempre me perguntei se ele gosta de Rojões – tem nome disso, mas desculpem) a debruçar-se e compreender todo este xadrez político-diplomático…
Vamos a factos: em Lisboa, no dito porto seguro da União Europeia, houve acordo, sob a égide de José Sócrates, presidente do Conselho Europeu, e do presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso (ah, estava lá, outrossim, um tal de Javier Solana que ajudou qualquer coisita) para a celebração dum Tratado Reformador… Parabéns PORTUGAL. Será desta que a Europa terá uma só voz? Descreio, não obstante os interesses nos mercados económicos…

2 comentários:

Amândio Sereno disse...

Seria um velho do restelo?

Noto-te um certo pendor anti-europeu.

Vamos a ver onde é que isto vai parar.

Quanto a mim há uma falsa felicidade. O comboio europeu ainda vai encontrar muitos troncos caídos na linha.
A questão é saber se irá descarrilar ou se levará os obstáculos à frente.

Olhar disse...

Se nas reuniões a todos dissermos "Sim Senhor vai ser feita a sua vontade" mérito de um subtil jogo de cintura na redacção do texto, despachamos rapidamente o assunto e depois já podemos calmanente embandeirar em arco com tal feito.:)))))